Dias 07/09 a 12/10/2013
das 18h30 às 21hs, aos sábados
Valor: R$ 420,00 à vista
Ou 2x R$ 230,00
com Marcos Beccari
Aula 1
Introdução geral e breve história do consumo
O consumo já é algo tão evidente para nós que raramente paramos para pensar como se estabeleceu essa cultura ocidental globalizada que muitos classificam como “de consumo”. Mas o que será que caracteriza uma sociedade como “sociedade de consumo” (supondo que esta seja uma expressão razoável)? Consumir não é, afinal, uma prática de todas as sociedades humanas (pelo menos consumo de água e comida)? Ou será que só devemos chamar de consumo práticas que envolvem compra? Se for assim, nossa sociedade seria mais “de compra” que que “de consumo”? Enfim, como podemos compreender o termo “consumo”?
Ao longo da aula, abordaremos questões como: em que momento histórico se consolidou uma “sociedade de consumo”? E antes disso o que é que havia, uma sociedade “de produção”? Qual a relação entre consumo e capitalismo? Qual a relação entre a consolidação de uma sociedade de consumo e a emergência de campos como o da publicidade e do design? Ou ainda entre a consolidação de uma sociedade de consumo e novas formas de se pensar o espaço urbano, novas tecnologias, novos movimentos éticos e estéticos? Este último ponto será melhor desenvolvido na próxima aula.
Referências introdutórias
CARRASCOZA, J.; SANTARELLI. Um olhar de descoberta na Paris da Belle-epóque. Comunicação, mídia e consumo, v. 3, n. 9, 2007. Disponível em: http://revistacmc.espm.br/index.php/revistacmc/article/view/88.
BECCARI, M. A dúvida do mercado. Revista Ciano, vol. 2, n. 1, 2012, p. 88-116. Disponível em: http://filosofiadodesign.com/a-duvida-do-mercado/.
BECCARI, M. Fantoches nem sempre alienados. In: Filosofia do design [website]. Disponível em: http://filosofiadodesign.com/fantoches-nem-sempre-alienados/.
Referências de base
McCRACKEN, G. Culture and consumption.
WILLIAMS, R. H. Dream worlds: mass consumption in late nineteenth-century France.
BENJAMIN, W. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica.
SCHULER, F.; SILVA, J. M. da. (orgs.) Metamorfoses da cultura contemporânea.
BACCEGA, M. A. (org.) Comunicação e culturas do consumo.
FERREIRA-SANTOS, M.; ALMEIDA, R. de. (orgs.) Cinema e contemporaneidade.
BAUDRILLARD, J. A sociedade do consumo.
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Aula 2
Consumo, ética e estética
A consolidação da sociedade de consumo está diretamente relacionada a importantes alterações nos costumes e nas sensibilidades dos atores sociais. Percepções, narrativas, dinâmicas de pertencimento/exclusão e novos modos de estar-no-mundo são fatores que revestem a produção social de sentido e modificam o território cultural. Nesta aula levantaremos algumas das questões éticas e estéticas que permeiam tais mudanças: em que medida nosso “gosto pessoal” define ou contraria o que se considera “belo”? De que forma a concepção do que é “belo” influencia a noção de “certo” e “errado”? Até que ponto nossas interpretações do que vemos e do que vivemos são absolutamente individuais, próprias e originais? Quais são as fronteiras entre informação e opinião, leitura e interpretação, publicidade e ficção? De que maneira os valores e representações sociais instauram ou fragmentam nossa localização enquanto “personagens” do mundo?
Compreenderemos, deste modo, de que modo a complexa ideia de consumo está fortemente associada às percepções de mundo, seja enquanto práticas concretas, seja como mecanismos simbólicos, seja como sistemas de crenças capazes de oferecer lógicas mediadas de comunicação e de agenciamento cultural. O consumo será aqui apresentado, portanto, como possível dinâmica sensível e estruturante na produção de subjetividades, o que também implica afirmação de identidades, estratégias de visibilidade, alteridade e eroticidade para com o Outro, aceitação social e distinção individual etc.
Referências introdutórias
PORTUGAL, D. B. A estética: considerações filosóficas na direção de um design inútil. In: Filosofia do design [website]. Disponível em: http://filosofiadodesign.com/a-estetica/.
BECCARI, M. Narcisismo ou o talento de rir por não haver talento algum. In: Filosofia do design [website]. Disponível em: http://filosofiadodesign.com/narcisismo/.
SAFATLE, V. Falar de si mesmo lá onde não há mais si mesmo. Canal CPFL-Cultura no Vimeo [vídeo]. Disponível em: http://vimeo.com/52152626.
Referências de base
BAUDELAIRE, C. Sobre a modernidade.
BAUDRILLARD, J. Da sedução.
BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura.
CAMPBELL, C. The romantic ethic and the spirit of modern consumerism.
GIANNETI, E. Vícios privados, benefícios públicos.
ROCHA, R. de M. Comunicação e consumo: por uma leitura política dos modos de consumir. In: BACCEGA, M. A. (org.) Comunicação e culturas do consumo. São Paulo: Atlas, 2008, p. 119-131.
SAFATLE, V. Corpos Flexíveis e Práticas Disciplinares. In: BACCEGA, M. A. (org.) Comunicação e culturas do consumo. São Paulo: Atlas, 2008, p. 147-165.
FREIRE-COSTA, J. O vestígio e a aura: corpo e consumismo na moral do espetáculo.
FEATHERSTONE, M. (org.) Body modifications.
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Aula 3
Abordagens sociopolíticas do consumo
Muitas das primeiras teorias que atribuíram lugar central ao consumo ou à “sociedade de consumo” tendiam a encarar o consumo como uma atividade alienante, que afastava as massas de sua liberdade ou de um modo de vida autêntico. A partir do “espírito protestante do capitalismo” (Max Weber) e da “indústria cultural” (Escola de Frankfurt), o consumo tem sido o nome atribuído à expressão mais totalitária do sistema capitalista: uma Ordem baseada na disseminação e achatamento da “multiplicidade” e que vigora através de sua própria descrença.
As questões a serem debatidas nesta aula, pois, envolvem o “desencantamento” do mundo (com a especialização do trabalho) e mistificação/logro da cultura direcionada às massas: como valores como “verdade” e “justiça” são reduzidos a mercadorias intercambiáveis e descartáveis? De que modo os meios de comunicação instauram um tipo único de enunciador de um conteúdo que já não mais importa? Por que nossas condutas e mediações sociais são igualadas em sua distribuição e em uma gestão das “diferenças”? De que maneira o fluxo contínuo de trocas, metamorfoses e equivalências que tudo abarca tenderia a constituir um sistema maior que impõe sua predominância não mais a partir da produção, mas sim da circulação de mercadorias? E haveria no próprio interior deste axioma alguma força de desarticulação de seus limites e de subversão de seus modelos?
Referências introdutórias
MIZANZUK, I.; BECCARI, M.; PORTUGAL, D. B. Anticast 68: a Escola de Frankfurt. In: Anticast [podcast]. Disponível em: http://www.brainstorm9.com.br/34248/anticast/anticast-65-a-escola-de-frankfurt-adorno-e-benjamin/.
SILVA, J. M. da. Debord e o Hiper-Espetáculo. In: Anais do XVI COMPÓS. Disponível em: http://filosofiadodesign.com/debord-e-o-hiper-espetaculo-por-juremir-machado-da-silva/
Referências de base
ADORNO, T; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento.
AGAMBEN, G. Profanations.
ARENDT, H. A condição humana.
BAUDRILLARD, J. À sombra das massas silenciosas.
SAFATLE, V. Sobre um riso que não reconcilia: ironia e certos modos de funcionamento da ideologia. Revista Margem Esquerda, n. 5, 2005.
MARCUSE, H. Eros e civilização.
BOURDIEU, P. A distinção.
DEBORD, G. A sociedade do espetáculo.
VIANA, S. Rituais de sofrimento.
ZIZEK, S. Primeiro como tragédia, depois como farsa.
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Aula 4
Abordagens antropológicas do consumo
Se na aula anterior o consumo foi apresentado como uma máquina social que tende a “coisificar” condutas e mediações humanas, a aula vigente será pautada pela possível dimensão antropológica do consumo: pelas identificações, emoções, escolhas, usos e satisfações como possíveis características de “humanização” dos objetos. Se encararmos o consumo, assim como o casamento ou a formatura, como um tipo de “ritual” de determinada sociedade, podemos pensar em uma personalidade que é “magicamente” transferida ao consumidor (que então vestiria uma espécie de máscara). Neste ritual, muitos agentes acabam desempenhando papéis importantes (a publicidade, o design dos objetos, os discursos morais, as próprias pessoas etc.) na mediação social por meio de símbolos e imagens sempre “atualizados”.
Neste ínterim, portanto, algumas questões podem ser relevantes: o que basicamente diferencia, sob a perspectiva antropológica, o consumo contemporâneo dos rituais ancestrais que envolviam totens, máscaras e magias? Em que medida o consumo pode desatar ou reconciliar a dicotomia entre natureza e artifício? O que a velocidade e efemeridade dos “rituais” contemporâneos de consumo dizem sobre a sociedade em que vivemos? De que modo as mercadorias influenciam e intervém nas relações sociais e no tecido cultural? Como compreender, retomando a aula anterior, o consumo de crenças por meio da descrença do próprio ato de consumir? Pode haver emancipação e profundidade no interior de um sistema de trocas alienante que nos coloca sempre na superfície de sua própria estrutura?
Referências introdutórias
TRAVANCAS, I. Antropologia do consumo. In: Symballein [website]. Disponível em: http://www.symballein.com.br/pt/livros-e-artigos/artigos/110-antropologia-do-consumo-isabel-travancas.
BECCARI, M. Inócua interatividade. In: Filosofia do design [website]. Disponível em: http://filosofiadodesign.com/inocua-interacao/
PORTUGAL, D. B. Resenha: magia e capitalismo. In: Filosofia do design [website]. Disponível em: http://filosofiadodesign.com/resenha-magia-e-capitalismo.
Referências de base
BORELLI, S. H. S.; ROCHA, R. de M.; OLIVEIRA, R. de C. A. (coords.) Jovens na cena metropolitana: Percepções narrativas e modos de comunicação.
BAUDRILLARD, J. A troca impossível.
FLUSSER, V. Pós-história.
PORTUGAL, D. B. A vinculação entre humanos e imagens nas dinâmicas contemporâneas do consumo: totemismo, fetichismo e idolatria. In: Revista Estudos em Design, v. 19.
DOUGLAS, M.; ISHERWOOD, B. O mundo dos bens.
GRAEBER, D. Possibilities: Essays on Hierarchy, Rebellion and Desire.
SAHLINS, M. Culture and Practical Reason
ROCHA, E. Magia e capitalismo
MCRACKEN, G. Culture and consumption (I e II).
LATOUR, B. Reagregando o social.
CANCLINI, N. G. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização.
SENNETT, R. The fall of the public man: on the social psychology of capitalism.
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Aula 5
Abordagens sociofilosóficas do consumo
Após a ascensão do sistema fordiano, passamos de uma economia centrada na oferta a uma economia centrada na procura, substituindo a iniciativa orientada para o produto pela iniciativa orientada para o mercado e o consumidor. Disso decorre a necessidade de diversificar a oferta adaptando-a às expectativas dos compradores, criar sistemas de fidelização, reduzir os ciclos de vida dos produtos através da rapidez das inovações, segmentar os nichos de mercado, favorecer o crédito ao consumo etc. A esta ordem de elevação do consumidor corresponde uma profunda reviravolta dos comportamentos e do imaginário social: a febre do conforto ocupou o lugar das paixões nacionalistas, os lazeres substituíram a “revolução”, sacrifícios universais perderam lugar a sacrifícios mais extremos orientados à melhoria contínua das condições de vida e, enfim, o “bem-estar” ocupa lugar privilegiado entre os “deveres morais”.
Tal conjuntura tem despertado questionamentos filosóficos complexos e muitas vezes paradoxais: o que significa “real” onde já nenhuma experiência escapa às estratégias do marketing e, portanto, onde cada um pode construir a seu bel-prazer a organização do seu tempo, modificar sua aparência e moldar seu modo de vida? De que forma o “ethos” consumista reorganiza o conjunto dos comportamentos, inclusive aqueles que não advêm diretamente da troca comercial? O que significa “liberdade” numa condição em que, quanto mais o consumidor vê o seu leque de opções alargar-se e quanto mais ele possui acesso à informação para “pensar por si mesmo”, mais este consumidor se torna dependente do sistema comercial? Por que temos técnicas e tecnologias de saúde cada vez melhores, mas isso não impede que nos tornemos cada vez mais cronicamente hipocondríacos contra a depressão e o “stress”? Como é possível cultivar e cultuar nossos corpos, numa crescente “emancipação sexual”, se a impotência sexual, a ansiedade e a insegurança alastram cada vez mais pessoas? Como conquistamos uma variedade de prazeres cada dia mais numerosos e frequentes, ao mesmo tempo em que mais pessoas vivem em condições precárias, fazendo do dinheiro uma preocupação simultaneamente obsessiva e efêmera?
Referências introdutórias
BECCARI, M. Prometheus Corporation. In: Filosofia do design [website]. Disponível em: http://filosofiadodesign.com/prometheus-corporation/.
BECCARI, M. As quatro trincheiras de uma guerra sem chão. In: Filosofia do design [website]. Disponível em: http://filosofiadodesign.com/as-quatro-trincheiras-de-uma-guerra-sem-chao/.
Referências de base
BAUDRILLARD, J. Simulacros e simulações.
__________. A arte da desaparição.
TAYLOR, C. The age of authenticity (In: A secular age)
CAMPBELL, C. The romantic ethic and the spirit of modern consumerism.
FLUSSER, V. O universo das imagens técnicas.
SAFATLE, V. Cinismo e falência da crítica.
LIPOVETSKY, G. A felicidade paradoxal
EHRENBERG. O culto da performance.
SLOTERDIJK, P. Crítica da razão cínica.
PORTUGAL, D. B.; BECCARI, M.; SALGADO, J. Seja estúpido: o imperativo trágico da (não) afirmação à vida. In: Anais do III Jornada Red Cobinco. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/77206518/Seja-estupido-o-imperativo-tragico-da-nao-afirmacao-a-vida.
ORLANDI, L. L.; RAGO, M.; VEIGA-NETO, A. (orgs.) Imagens de Foucault e Deleuze: ressonâncias nietzschianas.
ZIZEK, S. Como ler Lacan.
__________. Bem vindo ao deserto do real!
LEARS, J. Fables of abundance.
LACAN, J. O estádio do espelho como formador da função do Eu.
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Aula 6
Debates gerais do consumo
Como as teorias nos ajudam a compreender as dinâmicas contemporâneas do consumo e os lugares do design e da publicidade em tais dinâmicas? Das aulas anteriores podemos concluir que o consumo é um fenômeno multifacetado, passível de vários sentidos, interpretações e julgamentos. Seja como for, sua inegável amplitude no mundo contemporâneo atribui importância social e política cada vez mais maior aos campos do design e da publicidade. Resta-nos questionar, então, em que medida design e publicidade estão submetidos ao mecanismo do espetáculo, orientando ou desorientando condutas sociais, construção de identidades, fazendo delas uma ponte para a autonomia dos indivíduos ou uma reserva a mais de sofrimento e alienação.
Muitos debates poderão ser gerados como desdobramentos das reflexões construídas até então: até que ponto esta ou aquela concepção de consumo não acaba abarcando qualquer coisa, como crenças religiosas e posicionamentos políticos, a “consumo”? Como podemos contemplar o consumo diante da arte e do entretenimento (como no caso do cinema)? Quais facetas e peculiaridades de consumo que surgem a partir dos videogames, da internet e dos dispositivos móveis? De que forma cultivamos a idolatria, seja na solenidade para com as autoridades, seja na veneração de heróis (ou anti-heróis), seja na banalização das celebridades? Em que medida nossos hábitos, preferências e vícios podem ser considerados, de fato, comportamentos de consumo?
Referências introdutórias
BECCARI, M. Consumo ateu e o fetichismo contemporâneo. In: Filosofia do design [website]. Disponível em: http://filosofiadodesign.com/consumo-ateu/.
BECCARI, M. Design, biogenética e a virtualização do real. In: Filosofia do design [website]. Disponível em: http://filosofiadodesign.com/design-biogenetica-e-a-virtualizacao-do-real/.
Referências de base
BAUDRILLARD, J. Tela-total: mito-ironias do virtual e da imagem.
ZIZEK, S. Lacrimae rerum: ensaios sobre cinema moderno.
__________. O amor impiedoso ou sobre a crença.
BECCARI, M. A ficção do real: uma reflexão preliminar, a partir da Educação, sobre o Design no processo de inter-subjetivação. Revista Triades, v. 2, n. 1. Disponível em: http://www.revistatriades.com.br/blog/wp-content/uploads/2012/12/a_ficcao_do_real.pdf
DERRIDA, J. Limited Inc.
COELHO, J. T. A cultura e seu contrário.
GRAEBER, D. Debt: the first 5.000 years.
VIDAL JUNIOR, I. F. Consumo, Mídia e Clínica: Para uma Genealogia da Elaboração do Trauma de Guerra. In: Anais do I Comunicon.
ROCHA, R. de M.; PORTUGAL, D. B. Sedução, sonhos, fantasma: a erótica das visualidades. In: Revista FAMECOS (Online), v. 19.
PORTUGAL, D. P.; VAZ, P. A felicidade é química e pode ser vendida?: as dimensões éticas e mercadológicas da razão farmacêutica. In: Anais da XXI Compós.
SLOTERDIJK, P. Regras para o parque humano.
LOWE, A.; LATOUR, B. Switching Codes.
Dias 07/09 a 12/10/2013
das 18h30 às 21hs, aos sábados
Valor: R$ 420,00 à vista
Ou 2x R$ 230,00
com Marcos Beccari